Monthly Archives: Abril 2008

No Repórter de 27 de abril de 2008

Destaques da edição 61. Confira a edição completa clicando na imagem da capa, ao lado.

Barulheira no centro é de espocar os tímpanos

O Centro de Manaus parece mais um hospício de drogados. No entorno da Praça da Matriz, na Marquês de Santa Cruz e até nas proximidades do Colégio Militar, passando pelas demais ruas do “centro histórico”, tudo o que se ouve é uma balbúrdia só. Nas calçadas, vendedores batem palmas e gritam desvairadamente.

Prefeito culpa Iphan pelo incêndio do mercadão

Em reunião com os permissionários do Mercado Adolpho Lisboa, que assistiram suas mercadorias virar carvão na noite de quarta-feira, 23, o prefeito, o prefeito Serafim Corrêa foi incisivo: “Esta obra já era para estar pronta. Se não está, não é por culpa da Prefeitura, mas do Iphan que embargou a obra”.

Manaus registra 3,7 mil assaltos por mês

Os números da violência em Manaus apontam para um caso de calamidade urbana, no qual a população é a mais prejudicada, ficando à mercê dos bandidos, sendo obrigada a se trancar atrás de grades de ferro para buscar algum tipo de proteção. Somente nos meses de janeiro e fevereiro deste ano, a Secretaria de Segurança Pública registrou 85 homicídios e um latrocínio, ou seja, roubo seguido de morte. Outro número que assusta é a quantidade de estupros registrados: foram trinta e um nos dois primeiros meses, média de um a cada dois dias. A insegurança na cidade de Manaus é flagrante quando se observa o total de ocorrências de furto nos dois primeiros meses do ano: 7251, sendo 3716 em janeiro e 3535 em fevereiro. Já os casos de roubo somam 3717, divididos em 1979 para janeiro e 1747 para fevereiro.

Arthur diz que vai à ALE

Uma manobra política articulada pelo deputado Ângelus Figueira (PV) garantiu o comparecimento do senador Arthur Neto (PSDB) ao plenário da Assembléia Legislativa para debater temas de interesse do Estado. As denúncias contra o governador Eduardo Braga feitas pelo próprio senador devem ser o foco dos debates.

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Cigás investigada

Cigás investigada

1. Em 1995, ALE aprova implantação da Companhia de Gás do Amazonas
2. Na bolsa de valores, CS Participações compra a Cigás por R$ 3 milhões
3. Eletrobrás repassa R$ 89 milhões 4. para construção dos gasodutos em Manaus
Em ata, consta que Manaus Gás investiu apenas R$ 22 milhões nas obras

O promotor Edilson Martins, coordenador das promotorias do Patrimônio Público, deverá abrir procedimento de investigação para apurar a venda de 83% do capital acionário da Cigás à empresa baiana CS Participações. A decisão do promotor foi tomada na sexta-feira, 04, em função das seguidas suspeitas levantadas pelo apresentador e âncora do programa CBN Manaus, Ronaldo Tiradentes, que insistia em perguntar por que a Eletrobrás que é uma empresa pública vai repassar R$ 66 milhões para uma empresa que tem 83% de seu capital privado. E, ainda: por que o Governo vai investir R$ 89 milhões em uma empresa que teve suas ações adquiridas na Bolsa de Valores por R$ 3 milhões? De acordo com o deputado Federal Francisco Praciano (PT), é mais coerente devolver o dinheiro e o Estado tomar para si a distribuição do gás. De acordo com Tiradentes, em ata aprovada no dia 7 de março de 1995, consta que a Manaus Gás entraria com R$ 22 milhões para execução da obra sem mencionar em nenhuma circunstância a contrapartida da Eletrobrás, ou seja, dos R$ 66 milhões. Esse mesmo assunto, também, foi alvo de debates na Assembléia Legislativa. Em outubro de 2006, o deputado Sinésio Campos (PT), por exemplo, hoje, líder do governo, requereu uma audiência pública para debater e esclarecer o processo de venda da Cigás, em 2002, pelo governo do Amazonas para a empresa baiana. Ao decidir pela venda dessas ações, o estado ficou com apenas 17% do capital social da Cigás, perdendo a maior parte do lucro para a CS Participações.

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Curiosas, inusitadas e estranhas alianças

Há seis meses do pleito, o que no passado representava o impossível, agora se desenha como união de forças para alavancar candidaturas

Joaquina Marinho, Anhangüera, Castelo Branco, Zé da Moita e Marieta Solimões

Você alguma vez já acreditou em políticos? Acredita agora? Acha que eles são sinceros? Acredita no que dizem ou prometem?

Dolorosa interrogação.

Em tempo de política eleitoral, entretanto, todas essas questões são dissecadas à exaustão nos debates formados nas esquinas e até mesmo na longínqua e esquecida zona leste, entre os aglomerados populares. O debate político, ao contrário do que dizem sociólogos ou cientistas políticos de plantão, faz sim parte da rotina do povo que se esforça por entender a costura das alianças, que não são norteadas por ideologia, mas por compromisso político, por uma ética utilitarista, e por outros valores morais.

Agora não é diferente, principalmente a seis meses do pleito. Por conta desses interesses utilitaristas, o que no passado representava o impossível, o que seria uma impensável imoralidade, hoje descaradamente se desenha como “união de forças” capaz de alavancar candidaturas.

Deste modo, “inimigos históricos” podem se dar até as mãos e se transformarem em “parceiros” de palanques. Assim, perde-se a compostura, mas não perde as eleições, dizem.

Com as eleições chegando a galope, as novas “parcerias” começam a ser alinhavadas da maneira mais estranha, curiosa e por que não imoral, entre o PT, PC do B e PMDB.

Em outras épocas, nesse imbróglio, PMDB pareceria um “estranho no ninho”, mas no ritmo em que o quadro se desenha, atualmente, eles fazem de tudo para parecer irmãos siameses.

O PT afastou-se de antigos aliados, como o PSB, e firmou casamento (ou “amigação”?) com o PMDB, embora tenha candidato próprio à prefeitura de Manaus. Neste caso, de cara, o eleitor petista já tem um bom “pepino” pra resolver: vota em quem? No candidato do partido do Lulalelé (êpa: Lula-lá!), ou no indicado pela “aliança”? E o próprio PT? Vai derramar sua dinheirama toda apoiando a quem?

Nem mesmo o maior partido “mural” do Brasil, o PSDB, principal antagonista dos petistas no cenário nacional, escapa ao assédio. Inusitadas, as alianças são um ensaio para a sucessão do presidente Luiz Inácio Lula da Silva e para a disputa dos governos estaduais em 2010. Se o próprio Lula não atentar contra a democracia e se lançar na aventura do terceiro mandato!

O PMDB se tornou prioritário para o PC do B.

Eron Bezerra e Vanessa Grazziotin eram os maiores críticos do governo Eduardo Braga. Aliás, o Eron foi o denunciante do Mensalinho Baré (alguém aí ainda se lembra?) e por diversas vezes pediu CPIs para investigar o governo. Hoje, domesticado, submisso e cooptado, firma aliança com um governo que sempre espinafrou.
O governo não mudou, logo quem mudou foi o “companheiro”, que hoje deve achar esse governo o mais probo, o mais competente, e o governador, seu chefe, mais…mais…mais…deixa pra lá…

Outro exemplo: Braz Silva (PSDC). Esse era oposição ferrenha ao “governo” de Serafim Corrêa, pelo menos nos primeiros meses. Logo,e portanto, a maior fonte dos repórteres em 2006, contra o governo municipal.
Hoje se encontra na mesma situação do Eron, porém, tem um desempenho quase brilhante na defesa do governo de Serafim. Virou um líder do governo municipal.

O PT, da “república da língua plesa”, cujos representes desancavam os adversários presenteando-os com os adjetivos mais ferinos, atacando-os em massa, juntamente com todos os governos (estadual e municipal), de repente, foi recebido com muito carinho pelos governantes em função de pertencerem ao partido do presidente da República. Exemplo é a cooptação de Marcus Barros, retirado a fórceps do governo federal para amarrar o PT na administração de Serafim (se bem que ele não estava bem no Ibama, com a Marina Silva fazendo “queimada” dele, no próprio PT e por uma gestão insípida). No caso dele, ao ser salvo pelo gongo, foi um caso típico de “cair pra cima”. Fazer o quê, né?

Também não se pode deixar de fora o caso “suis generis” de Alfredo Nascimento. Consta, especula-se, comentam por aí, rolam boatos, de que ele pode voltar a aliar-se ao seu ex-amo e senhor, Amazonino Mendes. Se isso for verdade, ele vai para os braços de um governador com quem fingiu que “rachou”. Até porque, os dois nunca chegaram a brigar publicamente.

Mas, e se ele “ficar” com o Braga?

Neste caso, vai para os braços de alguém que na campanha de 2000 o acusou de seqüestrar um menino carente (lembram do “caso Anderson”?) e por quem foi acusado de uma série de crimes eleitorais. Nenhuma denúncia deu em nada, até porque ninguém investiga denúncia de campanha.

Mas aqui, abramos um parêntese e chamemos novamente o leitor e eleitor a fazer conosco uma breve reflexão: Se o TRE e o Ministério Público não investigam as denúncias feitas durante as campanhas políticas, de que valem essas denúncias? Seriam todas elas meras mentiras eleitoreiras? Ou algumas poderiam ser verdadeiras? Se são mentiras oportunistas, não teriam cometido crime de “denunciação caluniosa” quem denunciou? Porém, caso alguma delas seja verdade, por que não é investigada? E os culpados, por que não são punidos com os rigores da lei? Ou o TRE e o MP são omissos? Se são omissos, seria propositadamente?

Caso seja, com que objetivos?

Mas e se o Alfredo preferir ficar com o Serafim? Será apenas por acomodação ao petismo ganancioso que obriga seus aliados a espalharem os tentáculos que a turma do PSDB chama de “malditos” em todas as administrações?

Entretanto, outra aliança mais maluca ainda é aquela que supostamente vai unir Arthur Neto com Amazonino. São vinagre e óleo! Arthur sempre foi ferrenho adversário – ou inimigo? – de Amazonino. E Omar Aziz? Cria assumida de Amazonino, saindo abençoado por Braga! Êta!

Quanto ao Chico Preto, será que agora vai para a Assembléia Legislativa tentar viabilizar uma chapa, candidatando-se à vice-prefeitura ao lado de Omar Aziz? Ele, que é do PMDB, vai ter que fazer Belarmino Lins engoli-lo. Belão, que odeia Chico Preto – brigaram publicamente em 2006 quando o governador favoreceu Chico e Arizinho Moutinho (Prodente) com aqueles vôos para o interior na disputa para deputado estadual, lembram?

Ou seja, são do mesmo saco, aliás, partido, mas se odeiam; no entanto, vão ter que subir no palanque juntos. Se rolar um clima, talvez até se abracem em público.

Vai daí que nossos políticos, na maior cara-de-pau, atiram no lixo tradicionais “conceitos filosóficos”, como a fidelidade partidária, a coerência política, a ética, a vergonha na cara, e tudo isso em nome do poder. O que eles querem é poder. Poder com a paciência do povo e, no final, poder com as instituições, poder com a gente e de uma vez por todas.

Por essas e outras, vá acreditar em político!

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Monografias vendidas pela internet

Acreditem se quiser: o produto pedido por e-mail é pago por boleto bancário, débito automático, cartão de crédito, débito on-line, transferência eletrônica ou depósito em conta e pronto

Por incrível que possa parecer, existem na Internet sites especializados que oferecem monografias universitárias e trabalhos de conclusão de curso sem a preocupação de expor ou não um esquema de comércio vergonhoso numa área que deveria ser extremamente fiscalizada por autoridades educacionais.

A compra de monografias produzidas por essas empresas é um ato que não combina com a vida de quem pretende se tornar um profissional de nível superior, muitas vezes responsável pela vida de outro ser humano.

A existência de clientes para esse tipo de bandalheira comprova a desonestidade que no passado foi chamada de cola e que, via de regra, podia custar caro para o aluno colão. Caro não no sentido de grana ou prejuízo financeiro, mas a repetição de ano, experiência dura que ninguém, no passado, gostava de encarar.

Os trabalhos adquiridos dessa maneira são usados para enganar quem vai avaliar a competência acadêmica do aluno que será formado com avaliação meia boca.

A compra de monografias pela Internet é mais fácil do que se imagina. Basta acessar sites especializados e adeus trabalho, mérito próprio, etc., etc. e tal. Para entrar nesse mundo da mamata acadêmica, basta dispor de alguns trocados e ter a cara-de- pau de clicar e acessar os links com as mais variadas ofertas, que vão desde R$ 300,00 até R$ 500,00.

E acreditem se quiser: o produto pedido por e-mail é pago por boleto bancário, débito automático, cartão de crédito, débito on-line, transferência eletrônica ou depósito em conta e pronto. Tudo certinho: dinheiro na conta,Trabalho de Conclusão de Curso (TCC) em 24 horas na mão e o diploma garantido.

De acordo com os sites, os trabalhos e as monografias são desenvolvidos dentro das normas estabelecidas pela Associação Brasileira de Normas Técnicas (ABNT) para o desenvolvimento de trabalhos escolares, tais como monografias, teses, dissertações, ou trabalhos prontos e monografias prontas. Pode?

Nos anunciados dos sites, as empresas se orgulham pela agilidade, qualidade dos trabalhos e pontualidade na entrega, além da garantia do conteúdo exclusivo. “Através de nosso controle de saída, sabemos exatamente se a monografia foi ou não comercializado para sua cidade”.

Os sites informam ainda que o público que acessa o portal de monografias prontas e sob encomenda é composto em sua grande parte por estudantes universitários. E que as empresas foram criadas com o objetivo de facilitar e agilizar o acesso à informação acadêmica.

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Editorial

Parece brincadeira de “manja” com a Justiça Eleitoral o que fazem os “candidatos” já lançados pela aí. Mas só quem fica “preso” na brincadeira é a própria Justiça, porque os candidatos são mais espertos e ágeis que ela.

Essa turma “dá show de bola” na “Vênus-cega-segurando-a-balança”.

Seja em seus sites, com decalques manjados em automóveis, em out-doors, em faixas e cartazes, em festas populares, em inaugurações, etc., colocam seus nomes de maneira afrontosa, sem a menor preocupação, omitindo apenas o cargo e a expressão “2008”, porque aí já seria demais…

Afora os já manjados “programas” de TV em que os “apóstolos da desgraça” se fazem passar por paladinos da “justiça”, passando uma falsa imagem de tudo poder resolver, “esculhambando” com os governantes e administradores públicos, como se fizessem melhor estando em seus lugares…

Muitos destes hoje já ocupam o outro lado do balcão e nada fizeram!

Mas a Justiça Eleitoral, nesses casos, não faz sua longa manus alcançar esses enganadores da boa fé do povo. Por que setá? Será por falta de recursos financeiros para fiscalizar? Será por falta de “provocação” do MP e dos Partidos? Ou será por falta de vergonha?

Todos os anos eleitorais surgem aqueles nomes não se sabe de onde ou o que pretendem, estuprando nossos olhos e nos deixando aquela pergunta no subconsciente: – o que pretende esse aí? Qual cargo quer disputar? Por que quer se fazer evidente?

Como perguntar não ofende, repassamos essa questão a “quem de direito”, ao TRE, ao MP, aos Partidos.
Daqui da nossa posição, faremos o que for possível para flagrar esses espertinhos e encaminhar a esses possíveis interessados, de graça, apenas pela vontade de ver a justiça se fazendo, a fim de subsidiar ações de abuso de poder e de propaganda fora de época, dissimulada, mas propaganda eleitoral.

As inaugurações e os palanques armados pelos governantes, logo antecedendo as eleições, é um abuso ainda mais dificil de combater porque envolve pessoas no exercício do Poder. Por isso mesmo é mais grave.

Por isso mesmo deveria ter o combate mais eficaz porque torna a disputa desigual.

A direito de prestar contas é na verdade um dever. Para isso, os governantes deveriam se valer dos balanços sociais de suas administrações e utilizar a estrutura “normal” de comunicações sociais disponíveis e não concentrar essas inaugurações, esses serviços, essas benesses, enfim, seus “sucessos” administrativos para próximo das eleições.

Se assim o fazem é porque sabem que “o eleitor não tem memória” ou “tem memória curta”. Paciência tem limite!

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O homem invisível

No 28 de Agosto, o homem entrou mas não passou da recepção. Novamente não foi atendido com o argumento de que o pronto-socorro não cuida de morador de rua porque eles vão ocupar leitos de pessoas produtivas.

Na última quarta-feira, 02, duas donas-de-casa humildes e pacientes percorreram praticamente todas as unidades de saúde da rede pública, numa verdadeira peregrinação,em busca de atendimento para José Rodrigues Cavalcante, 43. Suspeito de tuberculose, as duas humildes senhoras passaram pelos postos de saúde, Serviço de Pronto Atendimento (SPA) e Prontos-Socorros.

Talvez por se tratar de pessoa pobre, sem status social, político ou econômico, o paciente não foi atendido em nenhuma das unidades de saúde procuradas. Em todas elas, o senhor de estatura média, muito magro e abatido, não passou da porta de entrada.

Ele foi encontrado pelas donas-de-casa, que não quiseram se identificar, perambulando pelas ruas do bairro Alvorada, zona centro-oeste. “Ele estava passando muito mal e nós o levamos para o SPA do bairro. Lá, ele não foi atendido e o transferiram para o 28 de Agosto”, conta uma delas.

No 28 de agosto, finalmente, o enfraquecido e raquítico José Rodrigues Cavalcante entrou. Entrou mas não passou da recepção. Pior: num tom de insuportável discriminação, o homem tuberculoso foi obrigado a ouvir que não seria atendido porque o pronto-socorro não cuida de morador de rua.

E mais: porque eles – os moradores de rua – vão ocupar leitos de pessoas produtivas.

“Não podemos ficar com ele. Vamos mandá-lo de volta para o SPA do Alvorada. Leve-o para o lado de fora para esperar a ambulância”, orientou o técnico. E assim foi feito. José Rodrigues, que no passado foi motorista de ônibus, ficou sentado no chão, aguardando por um gesto de misericórdia, mesmo que fosse aquele que nas arenas de Roma era dado quando o monarca indicava com o dedo polegar voltado para baixo.

“Estou revoltada. Nunca pensei que uma pessoa, um ser humano, fosse tratado com tanto desprezo. Ele é morador de rua, mas é um ser humano”, desabafaram indignadas as donas-de-casa, vencidas pela intolerância, pelo preconceito, pela falta de sentimento humanitário e de preparo dos entes que são colocados para fazer saúde pública no Estado.

População de rua não pára de crescer

Em algumas áreas de Manaus é praticamente impossível para o cidadão caminhar ou mesmo circular de automóvel sem que seja abordado por um exército de pedintes, flanelinhas, limpadores de pára-brisa e vendedores de bugigangas. O crescimento desenfreado da população de rua desafia administradores públicos e órgãos de segurança.

Essa realidade está presente na vida da cidade e no dia-a-dia da população. Muita gente se sente incomodada com as abordagens cada vez mais ousadas de meninos pedindo para limpar pára-brisas ou homens, mulheres e crianças implorando ajuda para comprar uma passagem de ônibus, um remédio ou um prato de comida.

Por mais que a sociedade em muitos episódios feche os olhos para a população de rua, a verdade é real e dolorida: ela existe, se multiplica e adoece. O administrador público precisa contabilizá-los como cidadãos com direitos à saúde, inclusive. Deixá-los à míngua é mais do que cruel – é segregacionista.

Não se pode usar a justificativa da improdutividade para não atendê-los, pois integrantes de gangues, desocupados e presidiários também o são. E são não só improdutivos e inúteis, mas perigosos e causam medo à população. Os criminosos que cumprem pena, são mantidos com moradia, alimentação e atendimento médico quando necessário. O sentimento de solidariedade das duas donas-de-casa em relação a José Rodrigues poderia ser canalizado para ações concretas, com o intuito de resgatar essa população marginal para uma vida útil e produtiva. É possível encontrar solução para o problema, priorizando investimentos em programas de educação e emprego.

À população resta promover ações de solidariedade concretas; em vez de dar esmolas que só ajudam a manter a dependência e o aumento da população de rua, criar estratégias de oferta de trabalho para absorver esse segmento populacional.

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Como era Manaus? – por Félix Valois

“Perguntei à moça da farmácia se ia às praias. Ela disse que ia às vezes a Ponta Negra ou Tarumã, mas preferia os banhos. Os banhos são pequenas represas de madeira feitas nos igarapés de fundo de areia.

Geralmente particulares, existem alguns públicos como o Parque 10, Ponte da Bolívia e Tarumãzinho”.

Os mais jovens não entenderam nada e os da minha idade hão de estar imaginando que, a esta altura da vida, resolvi fumar maconha vencida.

Nada disso. O trecho acima eu encontrei na internet e foi extraído de uma carta escrita pelo pintor pernambucano José Cláudio à sua família, quando esteve em Manaus, em missão científica, juntamente Paulo Vanzolini. A data: outubro de 1975.

Só pude sentir saudade e tristeza. De tudo o que o artista nordestino fala, a única coisa que ainda sobrevive é a Ponta Negra. E mal. O Tarumã foi engolfado pela especulação imobiliária e hoje tem uma serventia científica inigualável: criar os mosquitos da dengue e da malária.

O Parque 10 foi simplesmente abandonado e sua imensa piscina de águas naturais, desfeita, a fim de permitir que um Mindu poluído e mal cheiroso tenha curso livre entre o que restou da vegetação exuberante.

A Ponte da Bolívia e o Tarumãzinho se transformaram em gigantescos bosteiros a céu aberto, deixando apenas a lembrança dos domingos e feriados em que pelo menos um terço de Manaus os freqüentava.

Os igarapés, todos eles, não conseguiram resistir ao avanço do “progresso” que os envolveu implacavelmente com a sua inefável aura de um urbanismo de gosto duvidoso e, no mínimo, irresponsável.

A carta do pintor ainda vai completar trinta e três anos e já tem sabor de história. Uma história amarga, cruel e inclemente, a retratar os maus tratos de que foi vítima esta cidade, explorada por quem nem a conhece e desprezada pelos que lhe deveriam o mínimo de respeito.

Diz ainda o artista pernambucano: “Achei Manaus uma cidade fantástica e o rio não dá impressão de rio”.
Por incrível que pareça, até hoje ele está coberto de razões. A destruição não conseguiu ser completa. Felizmente.

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Amazonas dos futuros desdentados

Saúde bucal é qualidade de vida segundo a OMS. Mas como se pode exigir isso num Estado gigantesco onde a quase totalidade da população interiorana nem possui atendimento médico que lhe garanta dignidade?

Apesar de viver na cidade, Daniel (nome fictício para o menino da foto) nunca foi ao dentista e daqui a algum tempo, as possibilidades de encontrar um emprego bom irão diminuir, com o agravamento da situação de pobreza em que vive.

A saúde dos dentes é um dos critérios da Organização Mundial da Saúde (OMS) para medir a qualidade de vida de uma população. Mas no Amazonas, como o REPÓRTER vêm mostrando desde a primeira edição, nas matérias especiais do jornalista Castelo Branco, grande parte da população sofre de todo tipo de doença porque não possui o mínimo de atendimento médico que lhe garanta dignidade.

É nesse contexto de ausência do poder público que muitos meninos e meninas, a exemplo de Daniel, se encontram, sem qualquer qualidade de vida.

O Programa Brasil Sorridente do governo federal, criado em 2002, agora começa a gerar algum resultado na capital do Amazonas. No interior, entretanto, mesmo nas cidades maiores, como Coari, o atendimento odontológico é mínimo.

Enquanto a OMS preconiza um dentista para cada 1,5 mil habitantes, na terra da banana, de acordo com dados atualizados do Conselho Regional de Odontologia do Amazonas (CRO-AM), existe um profissional para quase 7 mil habitantes. Em Alvarães, apenas um dentista cuida dos 14.776 moradores.

“Em Maués, devido à urgência, o prefeito pensa contratar um prático (estudante de odontologia) para atender a população”, lembra o presidente do CRO-AM, Heládio Gomes.

Por outro lado, Manaus e outras cidades onde é grande a presença do exército, há profissionais além do estabelecido pela OMS. Aqui, existe um dentista para 1.256 habitantes e São Gabriel da Cachoeira não fica muito atrás, com um para cada 1.340 pessoas.

No último relatório do Ministério da Saúde (MS), intitulado Condições de Saúde Bucal da População Brasileira (2002 -2003), é mostrado que as regiões Norte e Nordeste possuem as médias mais altas de dentes cariados – principal problema entre crianças e adolescentes. Nas mesmas regiões, os adolescentes vencem adultos e idosos no uso de próteses dentárias e é onde há mais necessidade de próteses totais. O Norte é campeão em número de pessoas que nunca foram ao dentista (56% da população).

Desigualdade na distribuição de dentistas

Há algum tempo, o governo federal vem tentando implantar a municipalização plena da saúde, que engloba os atendimentos básicos, de urgência e emergência. Por enquanto, poucos municípios querem essa responsabilidade. Em Manaus, a prefeitura administra todo o atendimento básico nas Unidades Básicas de Saúde (UBS).

O nível básico em odontologia garante restaurações, extrações dentárias e periodontia (tratamento da gengiva) básica. Mas a distribuição dos profissionais de saúde bucal nas UBS com tratamento odontológico, hoje, ajuda na manutenção da desigualdade social, no que diz respeito aos dentes.

A rede pública municipal de saúde possui 321 dentistas, porém são as zonas mais abastadas que possuem número maior desses profissionais. Para se ter uma idéia, enquanto toda a zona norte dispõe de apenas 9 UBS com um total de 65 dentistas, a sul possui 18 UBS e 91 dentistas.

A sugestão de Heládio Gomes a ser apresentada durante reunião da Comissão Nacional de Valorização da Odontologia é que a Secretaria Municipal de Saúde (Semsa) use as entidades de classe como consultores quanto à melhoria dos serviços à população.

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Mundo minúsculo

É o artesanato do minúsculo, técnica surgida no Japão da época dos Samurais onde o talento estava na firmeza das mãos e na astúcia dos olhos.

É impressionante o talento e a capacidade criativa do artesão Felipe Amazonas, 43, de transformar pequenos grãos de arroz em verdadeira obra de arte. Para tanto, o artesão dispõe de um bem que poucos conseguem ter: precisão cirúrgica nas mãos e visão de águia, usados para desenhar palavras no quase minúsculo grão e ganhar a vida por um método nada convencional.

O artesanato do minúsculo é uma técnica surgida no Japão da época dos Samurais onde o talento estava na firmeza das mãos e na astúcia dos olhos. A técnica é uma clara demonstração de habilidade e uma prova de fogo para a vista que, embora se assemelhe a da água, já se apresenta um tanto que cansada.

Felipe não é nenhum samurai, muito menos descende de algum clã oriental. No entanto, ele executa esse trabalho curioso e paciente de escrever nomes em grãos de arroz com a mesma competência de Itto Ogami, com a espada na mão, ao lado de seu “filhote”, Daigoro, na série de tv dos anos 70 – “Lobo Solitário”. Quem, na casa dos 40 anos de idade, não lembra?

Lobo solitário à parte, para quem não conhece a arte, até pode parecer meio sem sentido ter seu nome escrito em algo tão pequeno e depois não conseguir ler. Na verdade, aí é que reside o charme desse artesanato, explica Felipe. “É uma comunicação insuspeita”.

Não é sempre, mas Felipe vai à feira da Eduardo Ribeiro aos domingos. Lá, ele puxa uma caixa e derrama os grãos de arroz. Sobre ele, uma placa com os dizeres: “escrevo nomes em um grão de arroz”. Em alguns minutos, a platéia está formada: todos querem ver como é possível escrever no menor dos cereais. E Felipe garante que escreve até o “Pai Nosso” completinho.

O artesão conta que essa arte já lhe sustentou quando morou em São Paulo e que no Brasil são poucos os artistas que se dedicam a essa arte. Hoje, Felipe ganha a vida como professor de concursos públicos, mas vez ou outra ele vai à feira onde exercita as mãos e ainda ganha uns trocados – coisa de artista nômade.

Mimo

Antônio conta que a técnica de escrever nomes de pessoas em arroz para fazer colar ou chaveiro aprendeu por acaso, quando tinha 14 anos. “Eu aprontei alguma coisa que não lembro e a minha mãe me castigou. Ela me deixou trancado no quarto, como eu não tinha o que fazer, comecei a desenhar no arroz e gostei”, relembra.

Com muita criatividade, Felipe desenvolveu suas próprias ferramentas de trabalho. Foram várias tentativas para chegar ao produto final, principalmente, com a cápsula que armazena ao arroz. Francisco trabalha, além das ferramentas de construção, com matéria-prima formada por semente, borracha, arroz, caneta, canudo de plástico, linha, e corrente.

Em menos de um minuto, escreve um nome em um grão de arroz. A semente fica dentro de um pequeno vidrinho e serve para ser usada como pingente em correntes, brincos e pulseiras.Apenas isso é essencial para a construção dos chaveiros e colares que vende a R$ 7, cada, e somente gravado no arroz, R$ 2. Além do trabalho na feira, Antônio faz lembrancinhas para casamento. E não poderia ser mais apropriado e criativo presentear arroz com o nome dos pombinhos aos convidados.

Ele faz em média 10 a 15 peças que ficam prontas em questão de segundos. Para montar o adorno, utiliza uma massinha para grudar o grão. Em seguida, escreve com pincel o nome da pessoa. Com o auxílio de uma seringa, ele injeta um líquido tipo silicone. “Isso ajuda a conservar o produto e ainda facilita a leitura no pequeno grão de arroz.”, comenta.

Esses são alguns trabalhos artesanais que artistas “nômades” fazem para aumentar a renda familiar, ou simplesmente por hobby. Além de ter um dom nato, é preciso técnica, habilidade e bastante paciência para que, no final, o trabalho agrade à clientela. Para fazer a arte, o artista utiliza canetas de pontas simples, em geral, de cor preta ou azul. O resultado sempre agrada.

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CMM aprova financiamento de R$ 105 milhões para o viaduto do Coroado

Empréstimo a ser contratado pela prefeitura financiará as obras já licitadas e em andamento do viaduto do Coroado, a passagem de nível da Paraíba com Ephigênio Salles e as novas obras viárias previstas para a área do bairro Adrianópolis

É possível que, agora, o prefeito Serafim Corrêa não precise mais de um outro mandato via reeleição, é claro, para concluir as obras do atabalhoado viaduto da Bola do Coroado.

Com dinheiro no cofre à vontade – R$ 105 milhões autorizados pela Câmara Municipal para ser contratado com o Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) -, até mesmo para os costumeiros aditivos, a obra deve ser concluída nos próximos 280 dias (dezembro) a contar do dia 7 de março.

Isto é: se por um infortúnio do destino novas vigas não voltem a despencaram chão abaixo, como ocorreu no dia 14 de julho do ano passado.

Aliás, independentemente da estratégia política do prefeito Serafim Corrêa para o pleito municipal vindouro, do qual é candidatíssimo à reeleição, esse viaduto tem histórias cabeludas que até hoje causam arrepios só de ouvir falar nelas. Senão vejamos.

Tão logo foi noticiado o desabamento da viga levantada, que feriu nove trabalhadores em atividade laboral, o Conselho Regional de Engenharia do Amazonas (CREA) confirmou que as três empresas subcontratadas pela Camargo Correapara a realizarem serviços na obra do viaduto, estavam operando irregularmente no estado.
Ainda de acordo com o Crea, as empresas Senso, CS Ltda e Consarg, à época, não teriam registrado no conselho as Anotações de Responsabilidade Técnica (Arts).

Somente depois do acidente foi que procuraram o Crea para que pudessem operar sem embaraços no Amazonas.

De igual modo, em junho de 2007, o Ministério Público Estadual (MPE) concluiu que houve irregularidade na subcontratação de empresas pela construtora.

Por isso, pediu a participação do Tribunal de Contas do Estado no inquérito civil para investigar possível crime de improbidade administrativa dos gestores do município na contratação da Camargo Correa para a construção da obra.

Naquele mesmo período, o Promotor Edgard Maia de Albuquerque, da 70° Promotoria de Justiça da Fazenda Municipal, solicitou ao Crea que informasse se as empresas Senso Engenharia, Consargo- Construtora, J. Nasser Construções, Construtora Itaipu e Construtora Soma , subcontratadas para executar parte da obra do viaduto, estavam habilitadas e autorizadas para executar o projeto.

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