Há seis meses do pleito, o que no passado representava o impossível, agora se desenha como união de forças para alavancar candidaturas
Joaquina Marinho, Anhangüera, Castelo Branco, Zé da Moita e Marieta Solimões
Você alguma vez já acreditou em políticos? Acredita agora? Acha que eles são sinceros? Acredita no que dizem ou prometem?
Dolorosa interrogação.
Em tempo de política eleitoral, entretanto, todas essas questões são dissecadas à exaustão nos debates formados nas esquinas e até mesmo na longínqua e esquecida zona leste, entre os aglomerados populares. O debate político, ao contrário do que dizem sociólogos ou cientistas políticos de plantão, faz sim parte da rotina do povo que se esforça por entender a costura das alianças, que não são norteadas por ideologia, mas por compromisso político, por uma ética utilitarista, e por outros valores morais.
Agora não é diferente, principalmente a seis meses do pleito. Por conta desses interesses utilitaristas, o que no passado representava o impossível, o que seria uma impensável imoralidade, hoje descaradamente se desenha como “união de forças” capaz de alavancar candidaturas.
Deste modo, “inimigos históricos” podem se dar até as mãos e se transformarem em “parceiros” de palanques. Assim, perde-se a compostura, mas não perde as eleições, dizem.
Com as eleições chegando a galope, as novas “parcerias” começam a ser alinhavadas da maneira mais estranha, curiosa e por que não imoral, entre o PT, PC do B e PMDB.
Em outras épocas, nesse imbróglio, PMDB pareceria um “estranho no ninho”, mas no ritmo em que o quadro se desenha, atualmente, eles fazem de tudo para parecer irmãos siameses.
O PT afastou-se de antigos aliados, como o PSB, e firmou casamento (ou “amigação”?) com o PMDB, embora tenha candidato próprio à prefeitura de Manaus. Neste caso, de cara, o eleitor petista já tem um bom “pepino” pra resolver: vota em quem? No candidato do partido do Lulalelé (êpa: Lula-lá!), ou no indicado pela “aliança”? E o próprio PT? Vai derramar sua dinheirama toda apoiando a quem?
Nem mesmo o maior partido “mural” do Brasil, o PSDB, principal antagonista dos petistas no cenário nacional, escapa ao assédio. Inusitadas, as alianças são um ensaio para a sucessão do presidente Luiz Inácio Lula da Silva e para a disputa dos governos estaduais em 2010. Se o próprio Lula não atentar contra a democracia e se lançar na aventura do terceiro mandato!
O PMDB se tornou prioritário para o PC do B.
Eron Bezerra e Vanessa Grazziotin eram os maiores críticos do governo Eduardo Braga. Aliás, o Eron foi o denunciante do Mensalinho Baré (alguém aí ainda se lembra?) e por diversas vezes pediu CPIs para investigar o governo. Hoje, domesticado, submisso e cooptado, firma aliança com um governo que sempre espinafrou.
O governo não mudou, logo quem mudou foi o “companheiro”, que hoje deve achar esse governo o mais probo, o mais competente, e o governador, seu chefe, mais…mais…mais…deixa pra lá…
Outro exemplo: Braz Silva (PSDC). Esse era oposição ferrenha ao “governo” de Serafim Corrêa, pelo menos nos primeiros meses. Logo,e portanto, a maior fonte dos repórteres em 2006, contra o governo municipal.
Hoje se encontra na mesma situação do Eron, porém, tem um desempenho quase brilhante na defesa do governo de Serafim. Virou um líder do governo municipal.
O PT, da “república da língua plesa”, cujos representes desancavam os adversários presenteando-os com os adjetivos mais ferinos, atacando-os em massa, juntamente com todos os governos (estadual e municipal), de repente, foi recebido com muito carinho pelos governantes em função de pertencerem ao partido do presidente da República. Exemplo é a cooptação de Marcus Barros, retirado a fórceps do governo federal para amarrar o PT na administração de Serafim (se bem que ele não estava bem no Ibama, com a Marina Silva fazendo “queimada” dele, no próprio PT e por uma gestão insípida). No caso dele, ao ser salvo pelo gongo, foi um caso típico de “cair pra cima”. Fazer o quê, né?
Também não se pode deixar de fora o caso “suis generis” de Alfredo Nascimento. Consta, especula-se, comentam por aí, rolam boatos, de que ele pode voltar a aliar-se ao seu ex-amo e senhor, Amazonino Mendes. Se isso for verdade, ele vai para os braços de um governador com quem fingiu que “rachou”. Até porque, os dois nunca chegaram a brigar publicamente.
Mas, e se ele “ficar” com o Braga?
Neste caso, vai para os braços de alguém que na campanha de 2000 o acusou de seqüestrar um menino carente (lembram do “caso Anderson”?) e por quem foi acusado de uma série de crimes eleitorais. Nenhuma denúncia deu em nada, até porque ninguém investiga denúncia de campanha.
Mas aqui, abramos um parêntese e chamemos novamente o leitor e eleitor a fazer conosco uma breve reflexão: Se o TRE e o Ministério Público não investigam as denúncias feitas durante as campanhas políticas, de que valem essas denúncias? Seriam todas elas meras mentiras eleitoreiras? Ou algumas poderiam ser verdadeiras? Se são mentiras oportunistas, não teriam cometido crime de “denunciação caluniosa” quem denunciou? Porém, caso alguma delas seja verdade, por que não é investigada? E os culpados, por que não são punidos com os rigores da lei? Ou o TRE e o MP são omissos? Se são omissos, seria propositadamente?
Caso seja, com que objetivos?
Mas e se o Alfredo preferir ficar com o Serafim? Será apenas por acomodação ao petismo ganancioso que obriga seus aliados a espalharem os tentáculos que a turma do PSDB chama de “malditos” em todas as administrações?
Entretanto, outra aliança mais maluca ainda é aquela que supostamente vai unir Arthur Neto com Amazonino. São vinagre e óleo! Arthur sempre foi ferrenho adversário – ou inimigo? – de Amazonino. E Omar Aziz? Cria assumida de Amazonino, saindo abençoado por Braga! Êta!
Quanto ao Chico Preto, será que agora vai para a Assembléia Legislativa tentar viabilizar uma chapa, candidatando-se à vice-prefeitura ao lado de Omar Aziz? Ele, que é do PMDB, vai ter que fazer Belarmino Lins engoli-lo. Belão, que odeia Chico Preto – brigaram publicamente em 2006 quando o governador favoreceu Chico e Arizinho Moutinho (Prodente) com aqueles vôos para o interior na disputa para deputado estadual, lembram?
Ou seja, são do mesmo saco, aliás, partido, mas se odeiam; no entanto, vão ter que subir no palanque juntos. Se rolar um clima, talvez até se abracem em público.
Vai daí que nossos políticos, na maior cara-de-pau, atiram no lixo tradicionais “conceitos filosóficos”, como a fidelidade partidária, a coerência política, a ética, a vergonha na cara, e tudo isso em nome do poder. O que eles querem é poder. Poder com a paciência do povo e, no final, poder com as instituições, poder com a gente e de uma vez por todas.
Por essas e outras, vá acreditar em político!